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Com açúcar pressionado e etanol em alta, usinas podem reavaliar mix no final de safra

30/09/2025 - 11h22m

Com açúcar pressionado e etanol em alta, usinas podem reavaliar mix no final de safra

Com açúcar pressionado e etanol em alta, usinas podem reavaliar mix no final de safra

 

Com o avanço da safra 2025/26 e o recuo nos preços internacionais do açúcar, as usinas brasileiras já começam a reavaliar o mix de produção. A recuperação do etanol nas últimas semanas e os compromissos de exportação assumidos anteriormente estão entre os fatores que pesam na tomada de decisão.

O diretor da Czarnikow, Pedro Mizutani, também observa :

“De acordo com o último relatório divulgado pela Única, referente à segunda quinzena de agosto, o mix ainda estava bem alto, por volta de 54,2%. Porém, desde essa quinzena até hoje, o mercado caiu cerca de 120 pontos, ou seja, 1,2 centavos de dólar por libra-peso. Neste nível de preço, já faz sentido para quase todas as usinas produzirem etanol”, detalha.

O movimento de mudança parcial no mix já é observado em grupos como a Japungu, que decidiu destinar 15% da cana ao etanol. Para Zanetti, esse tipo de decisão estratégica pode ser seguido por outras usinas.

“São decisões estratégicas que, grupo a grupo, irão caminhar mais ou menos nesta direção. Além da relação direta dos preços, questões como distância para o porto, compromissos comerciais já estabelecidos também são determinantes”, afirma.

Mizutani vai na mesma linha: “Tudo depende do preço. Nos preços atuais de açúcar, etanol e dólar, devemos ver uma tendência para maior produção de etanol, diminuindo o açúcar disponível para o mercado”.

O analista Cristian Juliani Quiles, da FG/A, reforça que os preços do açúcar em Nova York, convertidos para reais, recuaram quase 30% desde o início do ano, ao passo que o etanol teve uma recuperação significativa desde julho.

“Isso motivou parte das usinas – inclusive clientes da FG/A – a direcionar parcela da moagem para o biocombustível. Essa decisão, no entanto, vem sendo reavaliada constantemente, à medida que a paridade entre os produtos se altera com a volatilidade dos preços”, relata.

Apesar disso, Quiles pondera: “Uma parcela significativa da cana ainda deverá ser destinada ao açúcar, principalmente por compromissos já contratados. Além disso, entendemos que uma eventual migração mais ampla para o etanol tenderia a pressionar seus preços, o que reequilibraria a atratividade do mix açucareiro”.

A estratégia das usinas para a próxima safra também será moldada por fatores externos. O especialista da StoneX, lembra que o cenário de superávit mundial já era previsto desde o início do ano.

“Pelo menos desde o começo do ano, quando esse cenário de superávit e produção brasileira da ordem de 40 milhões de toneladas ficou mais evidente, nossa expectativa era de preços mais pressionados. Aqueles que avançaram bem nas proteções em 2026/27 estão em posição confortável”, observa,

Mizutani reforça: “O preço do açúcar hoje já está refletindo uma produção entre 39 e 40 milhões de toneladas para o Centro-Sul na safra 2025/26 e uma quantidade maior de cana para a safra 2026/27. A safra indiana passa por uma recuperação de mais de 4 milhões de toneladas de açúcar com as boas monções e renovação de área. A safra tailandesa conta com 1 milhão de toneladas a mais de açúcar”.

Para Quiles, mesmo com a produção global elevada, a definição do mix para a próxima safra dependerá do comportamento do etanol.

Temos observado um aumento expressivo da produção de etanol de milho nos últimos anos, tendência que deve continuar na safra 2026/27”, afirma e acrescenta: “Isso traz uma perspectiva de menor paridade para o próximo ciclo produtivo, já que a produção de etanol de milho cresce de forma mais acelerada do que a demanda”.

Mizutani alerta que o câmbio será um fator determinante. Cada produtor tem o seu custo e a sua estratégia. “Neste nível de preço é difícil falar para o produtor precificar, porém cada caso é um caso. Diferente do etanol que há poucos mecanismos de hedge, o açúcar já oferece muitos mecanismos de hedge e o que pode influenciar muito para o produtor é o nível do câmbio que está muito volátil e ano que vem teremos eleição o que pode tornar o mercado ainda mais volátil”, observa.

Caso as projeções de produção para Índia e Tailândia se confirmem, e o Brasil mantenha a estratégia de maximização de açúcar, os modelos da FG/A indicam preços médios ao redor de 16 centavos de dólar por libra-peso para o ciclo global 2025/26 (outubro a setembro).

O analista da consultoria ainda nota que o Centro-Sul brasileiro investiu em renovação de canaviais em 2025, o que, aliado a condições climáticas favoráveis, pode resultar em maior produtividade na safra 2026/27.

“Dado que os preços atuais se encontram nas mínimas dos últimos cinco anos e muito próximos da paridade com o etanol, entendemos que o momento exige maior cautela nas fixações”, diz Quiles, que segue: “Nesse cenário, temos atuado junto a alguns clientes com estruturas alternativas, que vão além da simples venda de futuros, buscando preservar flexibilidade e capturar valor em eventuais movimentos favoráveis do mercado”.

Para o setor de etanol, Zanetti afirma que a flexibilidade brasileira é um diferencial. “O setor sucroenergético brasileiro tem na flexibilidade do mix de produção um importante diferencial contra outros produtores, como Índia e Tailândia”, complementa.

Já Mizutani observa que o avanço do milho pode mudar o jogo. “Teremos mais etanol de cana no ano que vem e muito mais etanol de milho, com inúmeras fábricas novas sendo implementadas”, disse.

Neste sentido, Quiles complementa: “Não vemos margem para um grande upside de preços no etanol de cana no próximo ciclo. Já para o etanol de milho, o cenário segue atrativo, com margens próximas a R$ 1 por litro”.

Em relação aos sinais que devem ser observados para antecipar mudanças no mix, Zanetti diz que “a relação de preços é um bom balizador, mas não deve ser analisada isoladamente”.”

Já Quiles cita fatores como o clima na Índia, a política de exportação do país, a reforma tributária no Brasil e o risco de reajuste na gasolina A. “Entendemos que há um alto risco de reajuste e um maior risco em se concentrar a produção no etanol”, argumenta.

Em um cenário de margens apertadas, Quiles destaca a importância da gestão de risco. “O agronegócio é, por natureza, um setor cíclico, sujeito a safras boas e ruins tanto em volume quanto em preços. Por isso, torna-se essencial a manutenção de níveis adequados de liquidez e alavancagem, com gestão rigorosa de caixa e, do ponto de vista comercial, a adoção de uma política de hedge sólida e disciplinada”, disse.

Entre os clientes da FG/A, segundo ele, muitos já fixaram volumes relevantes da produção para a safra 2026/27, a valores superiores a R$ 2.500 por tonelada.

“Revisamos as estratégias comerciais e de mitigação de risco mensalmente através de comitês executivos, e as estruturas financeiras e captações são organizadas de forma a garantir liquidez acima da média do mercado, um fator crítico em um ambiente marcado por juros elevados e preços pressionados”, concluiu.

Fonte : Nova Cana